DIMENSÕES TÊNUES DO CORPO / Texto de Sérgio Veleda
Na Bioenergética de Alexander Lowen, bem como na origem em Wilhelm Reich, os bloqueios corporais são vistos como
bloqueios emocionais presos na musculatura. Por isso nesse contexto
ficou condicionado a liberação de um bloqueio com uma catarse emocional e
corporal. Isso representa o nível mais superficial da questão. Pessoas
viciadas em catarse nesse estilo, não chegam a irem ao fundo. Nos
sistema de fisiologia sutil tibetano, chinês e hindu, a liberação é um
fenômeno psicoenergético sutil. Independente de uma catarse dramática,
cheia de efeitos dispersos; a liberação dos fluxos tênues do organismo
necessita uma verdadeira entrega e relaxamento, ao contrário de esforço e
catarse. Pessoas viciadas em catarse corporal, temem no fundo
entregarem-se. O esforço catártico funciona como defesa e barreira
contra uma entrega legítima, não performática. Seja uma liberação
emocional e muscular, ou ainda sutil e psicoenergética (ao nível do
prana, do lung), a experiência será de espaço, abertura, perda de
limites. Exatamente aí se encontra o medo subjacente. Mas as pessoas se
fixam nas suas fraquezas, medos, necessidades incuráveis para manterem
sua identidade. Elas descarregam isso todo o tempo quando ativadas
corporalmente, ou quando estimuladas por algo dramático. Agora, ao não
tomarem esse caminho e sim seguirem pela via das sutilezas,
experimentarão uma amplitude que lhes dá medo, pânico, pavor, por verem
sua identidade desaparecer na abertura do espaço interminável. Elas se
agitam em um surto histérico de pavor. E imediatamente a abertura, o
espaço, é novamente preenchido por suas experiências emocionais
viciadas, que enchem o espaço e reduzem a amplitude em um tenso e rígido
ponto neurótico, que busca novamente catarse apenas para ter alívio
dessa pressão interna, sustentada pelo pavor da entrega e da dissolução
da identidade que perpetua a enfermidade. Jamais podem ir além da
identidade, pois lhes dá medo se perderem de fato.